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Sobre o Homem que Corre
Diana Inácio
Ali vai um homem a Correr, sabe Deus a razão de tanta pressa. Talvez se tenha esquecido de um encontro importante, porventura alguém que de outra forma lhe mudaria a vida. Ou talvez Corresse para apanhar uma qualquer esperança pendente de um sonho esquecido, ou até concretizado e que por saber a pouco o fez continuar a Correr, sem saber.
Corre com naturalidade, como se sempre existisse a Correr. Se calhar é daquelas pessoas que sempre chega atrasada. Pessoazinhas detestáveis, essas, bem merecem Correr o que Correm. É a maldição de quem segue a vida com calma, até se aperceber que deixou passar o tempo e Corre para apanhar algo que não espera. Às vezes espera. Há quem espere. A minha experiência fala e diz-me que é raro, mas pode ser que o homem tenha mais sorte. Ou pelo menos uma perspetiva mais feliz. Sorte é apenas isso: perspetiva.
Se calhar só não gosta de viver com calma. Caminhar é para os velhos cuja mente degenera mais rápido que os ossos e mais lento que o tempo. Porquê caminhar, quando se pode Correr? Afinal o que é que se diz quando a vida não Corre como devia? "Vai-se andando". Andar não é para ele. Ele Corria, como Corre o rio, com pressa de chegar ao mar. O rio Corre e vive para sempre. Talvez seja sobre isso. Há quem pense que é preciso abrandar para viver. Estão todos enganados, viver é sobre Correr para no fim perceber que não se chegou a lado nenhum. Como naquelas passadeiras xpto do ginásio que as pessoas pagam quase mais do que pagam para viver. A diferença é que das passadeiras não se queixam. Houvesse mais bom-senso no mundo e talvez não fosse preciso Correr. Enfim, em vez de bom-senso temos passadeiras, acaba por ser parecido.
Os carros passam quase três a três, a um ritmo frenético e a velocidade goza com o senhor que Corre. Coitados dos passageiros, que Correm e não se apercebem. É esse o pior tipo de Corrida, aquela que não cansa e que por isso nem dá tempo de saber que se Corre. Pelo menos até ser tarde de mais. Há quem viva bem com isso. Antes passar ao lado da vida do que deixar a vida passar ao lado.
De súbito, o homem acelera, como se estivesse a ser perseguido pelo pesadelo que tivera de noite. As gotas de suor são visíveis da minha janela e esCorrem tanto como o próprio. Quando uma pessoa é apressada, tudo nela o é. Acena loucamente à vida, pedindo-lhe que espere e para ofegante quando a vê passar por si a 30 km/hora. Ou era isso, ou tinha acabado de perder o autocarro.
Sonhava com poemas sobre vultos
Vasco Cruz
Ele espera-me. Lá nas profundezas do escuro, ele me espera. Lá, onde ninguém vê ou suspeita, ele anseia pelo meu inevitável retorno, como o dono anseia que volte o seu cão, correndo com o galho, caprichosamente lançado para além, por entre as mandíbulas.
Nunca lhe vi o rosto, mas sei poder confiar no seu silêncio – lá estará, sempre me esperando. Afinal de contas, que mais de honesto têm as coisas à luz do dia? Quem me diz que não serão por natureza sombras, e os raios solares apenas delas fazem projetarem-se longos contornos coloridos que ludibriam os olhos – dizem-lhes que o mundo é luz, mas na verdade, a luz vem, infiltra-se por onde pode, e volta a partir mal secam os rios de sol, e então sobra aquilo que apenas é real – a negra face do mundo.
Tu não te escondes, por isso, és apenas sincero vulto de uma vida de vultos apagados em poças de luz.
E por mais que fales, e mais ainda eu vá ter contigo, ninguém realmente ouve, ou vê. Talvez, como as crianças, tenham medo do escuro, ou talvez seja a minha sombra que te encubra, ou ainda não passes de sonho meu. Não! Sinto-o demais para isso. A tua silhueta é mais palpável até que os corpos diurnos dos meus pares.
Do topo da torre vejo as coloridas e cristalinas reflexões da luz elétrica da cidade, dançando perdidas à tona das águas do rio, como fogos fátuos chamando-me para o interior dos pântanos onde algures se sufoca uma tragédia feita de lodo, mas a tua presença supera e ofusca, quando torno a olhar para trás, e então sinto a nudez do teu corpo, óbvia mesmo de olhos vendados pela noite, e somos os dois só o que somos, até o Sol raiar.
Religião e Laicismo: Em Busca do Equilíbrio
Tiago Marques
A recente proibição da utilização da abaya muçulmana nas escolas francesas visa, segundo o presidente francês Emmanuel Macron, proteger a “laicidade” dos estabelecimentos de ensino. Este episódio tem reanimado a discussão sobre a liberdade de culto, sendo mais um capítulo na longa discussão sobre o papel do poder religioso na democracia.
A liberdade religiosa é, indiscutivelmente, condição necessária à democracia. No entanto, é difícil afirmar o mesmo em relação à laicidade: nas constituições europeias, apenas na constituição francesa aparece de forma inequívoca a palavra “laica”, “laico” ou “laicidade”, uma herança da Revolução Francesa que espelha a relação da igreja com o poder político no regime a ela anterior. Nos restantes países, as relações entre Estado e Igreja são de diferente ordem e restringidas de maneira diferente. Na Inglaterra, por exemplo, os 26 bispos anglicanos mais velhos têm assento permanente na Câmara dos Lordes, a câmara alta do parlamento.
Em teoria, a laicidade, se utilizada como garantia da liberdade e da igualdade, pode aperfeiçoar uma democracia. Garantir que qualquer influência espiritual é completamente expurgada do poder político pode nivelar o papel que cada instituição religiosa representa na sociedade. Mas e o contrário? Pode a laicidade antagonizar com a liberdade religiosa?
A peculiaridade na lei fundamental francesa acima mencionada é, de resto, congruente com a forma como o poder francês lida com a presença de símbolos religiosos nos espaços públicos, nomeadamente nas escolas. Desde 2004, são proibidos crucifixos, quipás e lenços de cabeça, entre outros, nos estabelecimentos de ensino franceses. Contudo, a legalidade da utilização da abaya, o tradicional vestido muçulmano que cobre a mulher da cabeça aos pés, foi sempre discutida até que, em agosto de 2023, o governo anunciou a sua definitiva proibição.
Cada cidadão, por seu direito inalienável, pode definir o que bem quer para a sua vida. Se assim o desejar, a vivência religiosa pode fazer parte deste percurso. Se assim o desejar, a utilização de símbolos religiosos também. Cabe ao Estado garantir que, independentemente da crença optada, o cidadão será capaz de a viver na sua plenitude, em segurança e sem ser alvo de discriminação. Há apenas uma única situação onde, indiscutivelmente, o Estado pode limitar a liberdade de expressão religiosa: quando esta põe em causa a segurança ou qualquer uma das liberdades de outro indivíduo.
E sim: não raramente os símbolos e os valores religiosos são incompatíveis com os princípios democráticos e com os direitos humanos. No entanto, a proibição da expressão destes valores pelos cidadãos não é possível em democracia. Basta olhar para o exemplo paradigmático da relação de diversas religiões com a homossexualidade, que a consideram um pecado. Não é concebível que um Estado possa proibir alguém de, por motivos religiosos, acreditar que a homossexualidade seja um pecado: o máximo que pode e deve ser feito é a proibição da externalização destes pressupostos homofóbicos em atos concretos que firam a dignidade individual, assim como uma forte promoção da igualdade.
A utilização de burcas ou escapulários nas escolas, quer por parte dos alunos, quer por parte dos professores, é algo que apenas à pessoa diz respeito, não sendo comparável ao exemplo enunciado no parágrafo anterior – uma vez que a utilização de símbolos religiosos não põe em causa qualquer liberdade individual (situação na qual a proibição seria necessária), não é justificável que essa forma de expressão seja interdita. Assim, não faz sentido que esta medida seja encarada como protetora do princípio democrático da laicidade, já que este não se encontrava ameaçado à partida.
Aliás, até que ponto é que a proibição não fere a liberdade individual? Não é irónico que isso seja feito para proteger a laicidade, quando esta deve ser um veículo de expressão igualitária e equilibrada de todas as crenças e não o completo apagamento da experiência religiosa? Obrigar alguém a retirar um símbolo religioso não é tão ilegítimo como obrigar alguém a usá-lo?
For Mom, or the other side of Spring
Maria Rita
Mama, I was born with a defect.
I could have never just laughed,
Just smiled,
Just breathed,
Just be.
I was always reaching to someone I wanted to feel,
To someone I wanted to live,
Someone I wanted to pretend;
And pretend,
Not to you, mama,
Not to others,
But to myself,
Pretend to myself that I could feel anything at all.
Now I cannot speak my poets’ tongue -
So the stars ran away from me,
But perhaps I ran away too?
I don’t know, mama.
I’ve just always been certain of you.
I’ve just always been certain that I longed for a rush:
A rush of youth
A rush of the thrill, the cars, the kisses and raspy breaths and
Rush rush rush!
The land is ours.
Perhaps it is mine too?
I stumbled upon something recently, mama,
Between the roads, the old stones, the heavy cries of people in the subway,
The smell of a dear friend’s food after sadness,
The songs of somewhere far away that embraces me like you do, mama,
Like home.
It used to be in others I found myself
And now I find myself in the arms of a lover;
I found it, mama,
The will, mama,
To live.
The butterflies brought it back
From a time before I was born
And then I noticed that what I had stumbled upon
Was something I longed for:
Myself.
Acreditas em Magia?
Guilherme Silva
O esférico acabou de te tocar no pé direito. O tempo parou. Nada te atravessa a mente, mas sentes-te finalmente em casa. É quase uma sensação de conforto, de calma. Vem-te à memória aquela vez em que jogavas à bola com o teu pai no pátio, ou daquelas partidas intensíssimas que se jogavam nos intervalos da escola, imaginando que um dia ias ser jogador de futebol, como aqueles com quem tu jogavas na PlayStation ou vias na televisão. Um dia, ias ser tu quem cantava o hino da seleção para onze milhões de portugueses. Um dia, ias ser tu quem erguia a taça da Liga dos Campeões.
Regressas então ao jogo. Levantas a cabeça, e observas um campo repleto de adversários. Ao longe, uma luz ao fundo do túnel, o objetivo – a baliza.
E arrancas. Leve como o vento, rápido como um falcão. Parece que talvez não se esteja a assistir a um jogo de futebol, mas a uma companhia de bailado, tal a graciosidade de cada movimento. E passas por um, por dois, entregas a bola ao teu companheiro, que segue sempre a teu lado - como se de uma batalha se tratasse - ele devolve-te, tu voltas a oferecer-lhe, lembrando os velhos ensinamentos do mestre Cruyff, e por fim a bola acaba contigo.
Agora és só tu. Tens tempo. Esse momento que tantas vezes nos falta na vida, está agora na tua mão. Sabes, no entanto, que esse tempo não é infinito, e já que falamos daquele mágico treinador do Barcelona, voltemos a Espanha, pois parece que atrás de ti se largaram os touros, enfurecidos, com apenas uma meta em mente – parar-te a todo o custo.
É agora ou nunca. Concentras toda a tua força e foco. Remataste. Lá vai ela. Num voo lindo, brilhante, mais bonita que qualquer ave neste mundo. E durante aqueles segundos, não se ouve nada. Ninguém fala, ninguém respira, até os pássaros deixam de chilrear. O tempo volta novamente a parar.
E, do nada, uma explosão. Os adeptos sorriem, gritam, cantam. É golo. Para mim esta sensação será sempre inesquecível, mas também quase indescritivel. Se alguém me perguntar se acredito em magia, só diria que sim porque pude presenciar momentos como este. O coração fica cheio, e sentir aquele abraço, não só dos teus companheiros, mas também dos adeptos, que te dão um amor diferente, aquele amor que tu um dia entregaste àqueles craques que tanto idolatravas, é algo que qualquer atleta deseja sempre poder voltar a experienciar só mais uma vez.
Sim, qualquer atleta, porque tudo o que escrevi aqui, quer fosse a jogar com os pés ou com mãos, com bola ou sem bola, no campo ou no ginásio, na água, com um taco ou com uma raquete, é comum a todos os praticantes. Todos queremos sentir aquela magia.
Votos de um bom domingo
Ana Henriques
Em pleno período eleitoral, somos inundados com discursos e debates políticos. Contudo, esta imensidão de informação não garante a voluntária decisão de tirar o pijama e sair de casa a um domingo em direção às urnas para exercer o seu direito e dever de voto. Assim, o presente texto serve não como veículo de campanha de um partido político, mas sim para, através de três recomendações literárias, enfatizar a importância do voto e da existência de um regime democrático.
A Quinta dos Animais, George Orwell
A Quinta dos Animais é uma história intemporal e de leitura obrigatória, contada pela invulgar perspetiva dos animais de uma quinta que ganham não só uma voz, como também uma visão crítica acerca dos sistemas políticos. As personagens desta obra e as peripécias por elas vividas são o mote para a reflexão acerca do contributo fulcral dos princípios da espécie humana para a formação dos sistemas políticos por todo o mundo, visto que, ao longo do tempo, os valores originais de uma revolução são sempre corrompidos em nome da manutenção do narcisismo - “Aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana).
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.”
Ensaio Sobre a Lucidez, José Saramago
Espera-se um período ordinário de eleições. No entanto, após a contagem de votos da capital, 70% deles estão em branco. Repetidas as eleições, o número de votos em branco ultrapassa os 80%.
Saramago é o rei das ótimas premissas sucedidas por uma brilhante concretização. Assim, face a este impasse político, ao invés de assumirem responsabilidades e tentarem averiguar aquilo que apoquenta os eleitores, declaram o estado de sítio à capital, isto é, impedem a circulação livre da população, censuram meios de comunicação e retiram todas as forças do estado (polícia, bombeiros…) na esperança de instalar o caos. Paralelamente, iniciam uma investigação na procura do conspiracionista que originou esta cegueira branca.
“… esse direito é para usar em doses homeopáticas, gota a gota, não podes vir por aí com um cântaro cheio a transbordar de votos brancos…”
Fahrenheit 451, Ray Bradbury
A sociedade retratada por Bradbury é uma sociedade hedonista, dedicada ao prazer - ninguém trabalha para viver (exceto os Bombeiros). Nos bancos, os clientes são recebidos por robots e o ensino processa-se através de filmes. Todos aqueles ligados ao conhecimento estão reformados, sem fortuna (alguns perseguidos pelo sistema político). Os demais levam a vida "feliz" agarrados à TV.
Esta obra distingue-se das distopias de Orwell não há oposição política, não há ideologias contrárias, nenhum governo a ser derrotado, apenas a indiferença cultural das massas na busca da felicidade. Não existe um ditador opressivo, tirânico, maníaco, daí que este inimigo é o mais sinistro de todos: vontade impessoal de gente ignorante numa sociedade altamente censurada.
“Nós temos tudo para sermos felizes, mas não o somos. Algo está a faltar.”






Falemos de Eleições
Guilherme Silva
Escrevo isto no dia 11 de março, um dia (apenas umas horas) após os resultados das eleições legislativas em território nacional, encontrando-me, no mínimo, perplexo sobre tudo o que aconteceu ontem.
Vejamos a extrapolação final – Aliança Democrática vence com 1810871 votos e 79 mandatos, seguida do Partido Socialista, com 1759937 votos e 77 mandatos. Em terceiro lugar observamos o CHEGA, com 1108764 votos e 48 mandatos.
Portanto, deixo-vos com um pequeno comentário político, porque felizmente ainda (ainda!) vivemos numa democracia com liberdade de expressão.
Comecemos pelo suposto vencedor da noite, a Aliança Democrática. Comparando com 2022, não se verificou nenhum crescimento deslumbrante, conseguindo apenas mais 3 mandatos. Desta forma, não conseguem atingir o seu grande objetivo de uma maioria, nem com o auxílio da Iniciativa Liberal. Logo, Luís Montenegro encontra-se com um grande problema em mãos: volta atrás na sua palavra e coliga-se com o CHEGA? Não me parece, até porque no seu comentário ontem disse que manteria a sua palavra. Eu, no entanto, só descanso quando se confirmar que isso não acontece, porque políticos a voltar atrás na sua palavra há muitos. Logo, resta-lhe tentar governar minoritariamente. Ora, há um Orçamento de Estado para aprovar em outubro que pode ser chumbado e, tendo em conta que iremos ter um governo minoritário, há uma elevada probabilidade de isso acontecer, quer seja pelo PS (talvez não, dado que deu a entender que viabilizaria um governo de AD), quer seja pelo CHEGA – este sim parece-me que se irá opor, por vingança. Assim, creio veementemente que, num futuro próximo, estaremos novamente em eleições. Há outra questão importante que me parece importante sublinhar: a direita democrática é crucial para um país, tal como a esquerda é. Tenho visto nas redes sociais uma tremenda diabolização da Aliança Democrática, e vejo isso como algo injusto. Ninguém se esquece do que aconteceu no governo de Passos Coelho, no entanto, acredito que ele teve que colher muitos dos frutos plantados por José Sócrates, obrigando-o a tomar decisões difíceis, que infelizmente afetaram muitas pessoas. Assim, considero importante ter uma direita democrática forte e coesa no parlamento de qualquer país, e chamar a tudo o que se encontra à direita do PS fascista causa mais problemas do que aqueles que resolve.
Avançando para o PS, esse sim, indubitavelmente o grande derrotado destas eleições. Perde 40 mandatos, cerca de quinhentos mil votos a menos. Efetivamente, o país manifestou-se contra esta maioria absoluta e todo o caos e confusão que anda à volta do PS nos últimos 4 anos. No entanto, sinto que devo congratular Pedro Nuno Santos, que soube ser um bom perdedor, preocupado com a democracia e assumindo bem o seu novo papel com o líder da oposição. Resta-lhe, agora, analisar o que correu mal (e não foi pouca coisa) neste último mandato e preparar-se para umas futuras eleições.
Viremo-nos, então, para o CHEGA, o grande vencedor. Quadruplica o número de mandatos, mais 725 mil votos. Enfim, um dia histórico para este partido. André Ventura teve uma ascensão absolutamente meteórica nos últimos 5 anos e foram 48 deputados eleitos. Tal como observado no resto da Europa, vemos uma extrema direita a crescer exponencialmente. Ora, Ventura já tratou de colocar Luís Montenegro entre a espada e a parede: reforçou muitas vezes a irresponsabilidade que seria se não assumisse um governo de maioria de direita com uma coligação entre ambos os partidos. Eu não sei quanto a vós, mas eu não me coligaria com um senhor que me chama de prostituta política, mas enfim, o que dizer disto? Talvez dizer que se isso acontecesse estaria a dar razão a Ventura. Pegando um pouco da intervenção de Pedro Nuno Santos, que achei muito pertinente - não existem 1 milhão de racistas, xenófobos e fascistas em Portugal. Existem pessoas revoltadas com o estado degradante a que atingiu o nosso país e foi esta a solução que encontraram. Se, da minha perspetiva, é uma alternativa muito populista, que poucas soluções oferece ao país, e que baseou toda uma campanha na crítica ao adversário e não propriamente em medidas que resolvem problemas crónicos do nosso país, como a saúde, habitação e educação? Sim. Mas foi o que o povo escolheu, o povo é quem decide, povo é quem mais ordena! Portanto, compete agora ao resto da assembleia lutar contra isso, fazer valer os valores de Abril e mostrar que existem outras e melhores opções. No entanto, sublinho um feito no mínimo curioso por parte deste partido: Beja, um bastião do partido comunista, é, pela primeira vez, de direita, e o CHEGA rouba à CDU (que perde novamente deputados, acabando com quatro) o seu deputado histórico naquela zona. Leva, pelo menos, a pensar.
No que toca à Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda, ficam com o mesmo número de mandatos, aumentando apenas em número de votos. Devo também referir outro vencedor destas legislativas, o LIVRE. Consegue passar de um para quatro deputados, e Rui Tavares mostra que a esquerda que dialoga, e que destroi mais muros do que aqueles que ergue, tem lugar na assembleia, e mostra-se como um forte opositor à extrema direita.
Por último, falemos de duas questões muito importantes de ontem. Uma taxa de abstenção historicamente baixa, contrapondo-se com uma altíssima em 2022. Por isso, devo dar os parabéns a todos os portugueses que foram votar, muito orgulhoso em ver tantos a exercer este direito e dever. Por outro lado,e sinto que é quase o lado oposto da moeda da baixa abstenção, 100 mil votos para o partido ADN, um partido negacionista da vacina do COVID-19 e da crise climática. Só para ter um ponto de comparação, em 2022, teve dez mil votos (10 vezes menos). Este aumento absolutamente abrupto tem fácil explicação. Um partido com uma imagem e nome semelhante à AD levou à confusão de vários votantes. Se isto demonstra que nem votar conscientemente e com atenção conseguimos? Sem dúvida. Acredito, também, que, se a AD se queria manifestar com a CNE, deveria tê-lo feito antes e não no próprio dia das eleições, onde já não havia nada a fazer. No entanto, o facto de o ADN não eleger ninguém acaba também por ser uma crítica ao nosso sistema de eleições. Estamos a falar de 100 mil votos para o lixo. 1,63% dos votos não serviram para absolutamente nada. Penso que estará na altura de rever o modelo eleitoral, quer seja para instaurar círculos de compensação, quer seja para ponderar outro modelo que não o método de Hondt.
Para concluir, foi uma noite no mínimo confusa, e talvez ainda não será desta que temos um governo estável. Preparemo-nos para os tempos que se avizinham.
Aos meus avôs, e a todos aqueles que lhes foi retirada a juventude para ir lutar para o UltraMar;
Às minhas avós, e a todas aquelas que foram subjugadas à condição da mulher daquele tempo, privadas da liberdade e restritas à posição de dona de casa”:
“Meus senhores, como todos sabem, existem três tipos de estado: o estado social, o estado capitalista e o estado a que isto chegou”. Podia estar a falar dos tempos que correm, mas foi Salgueiro Maia quem proferiu estas palavras, ao reunir as suas tropas na madrugada de 25 de Abril de 1974, na Parada da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Mas este texto não falará dos Capitães de Abril. Falará, sim, de um ator menos referido quando se fala deste dia, é também um movimento, único, tão ou mais forte que o MFA, que é capaz de mover mares e oceanos: o movimento estudantil.
E é na cidade dos estudantes que este movimento foi muito importante para a queda do Estado Novo. Apesar de algumas vezes romantizadas e até exageradas, as crises académicas coimbrãs foram fulcrais naquele tempo.
Recuemos até 1944-45, o período do pós-guerra. Durante a primeira metade dos anos 50, raramente os meios estudantis se mostraram dispostos a romper o cerco do conservadorismo e do conformismo dominante, excetuando alguns momentos na Universidade do Porto. Logo após a instauração da ditadura, muitos estudantes juntaram-se aos revoltosos a 3 de fevereiro de 1927, em defesa da República (onde uns dias depois constaram na lista dos 100 mortos). Apenas cinco anos depois, em 1931, a polícia assassina João Branco, levando a uma onda de apoio de toda a cidade, que acompanhou o cortejo fúnebre.
As associações de estudantes eram dominadas pelo poder salazaritsta, através de direções eleitas por uma maioria de direita proveniente do CADC - Centro Académico de Democracia Cristã. Surge, então, motivada pelas quedas dos regimes fascistas pela Europa, a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC) de 1944-45, presidida por Salgado Zenha - um estudante que sempre lutou contra o regime. Durou apenas poucos meses no cargo, após se opor a uma manifestação de apoio a Salazar, sendo, por isso, preso pela PIDE. Inconformista, funda, juntamente com Mário Soares e outros grandes nomes da revolução, o MUD Juvenil, desenvolvendo importantes ações de combate à ditadura ao longo de 1947 e 1948: greves e protestos estudantis, organiza a semana da juventude e a concentração em Bela Mandil, difunde o Manifesto à Juventude e dá o seu apoio às candidaturas do General Norton de Matos e de Humberto Delgado.
No entanto, é na transição dos anos 50 para os 60 que começamos a observar maiores mudanças no panorama estudantil - a mulher ganha relevância enquanto estudante, sendo-lhe permitido utilizar o traje académico; a criação, entre 54 e 58, de grupos académicos, de vertente artística, que já se distanciavam dos ideais da altura; começam a surgir, com a obrigatória subtileza dos tempos, memorandos e comunicados, espalhados pelos jornais (como o mítico Via Latina), expressando o seu desagrado pelas restrições ao associativismo (que funcionava apenas numa prática assistencialista, de prestação de serviços) e de uma vida universitária holística, expressa na legislação sobre as “atividades circum-escolares dos estudantes”: o conhecido decreto 40.900. Juntamente com a candidatura popular de Humberto Delgado, em 58, esta lei veio unificar a ação dos estudantes, disposta a defender liberdades e direitos, e a promover uma educação plural, contrastando com António Sérgio, um dos autores do dito decreto:
“Emancipar os homens, treinando-os no uso do proceder autónomo, – autodisciplinado, racional, humanista: tal é, com efeito, o verdadeiro objectivo de quem educa os jovens. Para os que tomaram consciência de ser de facto assim (e só não tomam consciência de ser de facto assim os que nada compreendem da grande questão pedagógica) todas as intervenções das autoridades do Estado nas associações formados pela Grei estudantil parecerão de reprovar e de rejeitar de todo, como anti-pedagógicas no mais alto grau. Sérgio, 1957: 9”
No início da década de 60, ainda existem algumas questões se as associações estudantis devem ou não intervir na política nacional, mas relembro Jorge Araújo, fundamental para a renovação do associativismo: “Os problemas dos estudantes não podem abstrair-se do conjunto dos problemas nacionais, desde que isentas de todo o partidarismo, mas assentes em princípios fundamentais de reivindicação". Com base neste mote, e com uma nova Direção Geral da AAC, surgem cada vez mais preocupações sociais, em especial com o papel da mulher, na Carta a uma Jovem Portuguesa, publicada no Via latina, da autoria de Artur Marinha de Campos. Nela, constava um desafio à condição da mulher, afirmando que não deveria sofrer da opressão e repressão mental, remetendo para uma luta pelos seus direitos.
Surge, então, a primeira crise académica, na primavera de 62. Um ano antes, na latada, já se viram cartazes de cariz humorísticos sobre o regime, e os órgãos praxísticos, também cruciais na oposição à ditadura, manifestam-se, suspendendo a praxe, cancelando a Queima das Fitas e decretam Luto Académico. Um dos hinos da luta dos estudantes surge por esta altura - Trova do vento que passa, de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre. Já Zeca Afonso lança uma das suas primeiras canções de protesto - Os Vampiros e Menino do Bairro Negro. Mas a verdadeira crise decorre da proibição de duas reuniões inter-académicas pelo regime: por terras coimbrãs, realiza-se, contra a decisão governamental, o I Encontro Nacional de Estudantes e o II Encontro Nacional de Imprensa Estudantil. Em ambas, há importantes debates sobre a urgência da democratização do ensino e da remodelação do movimento associativista. No entanto, o reitor Guilherme Braga da Cruz escala o conflito entre a Academia e a Ditadura, levando a estudantes presos e suspensos e mudando os estatutos da faculdade, de forma a restringir ainda mais as liberdades das AEs.
Plenário à entrada da Faculdade de Letras de Lisboa. Fotografia disponível em 50anos25abril.pt
Pela capital, novos problemas: o governo decide cancelar o dia do estudante na véspera e reforça a polícia de choque para a cidade universitária, levando à mesma situação de Coimbra: prisão e suspensão estudantil (que leva à demissão de Marcello Caetano enquanto reitor da universidade de Lisboa). Nuno Caiado destaca este período como o surgimento do movimento sindicalista: “o sindicalismo nasceu aqui, quando as estruturas associativas toleradas pelo regime conseguiram assegurar para si a legitimidade formal da representação dos estudantes”. Efetivamente, constatou-se uma união - verificada também pela greve às aulas e greve de fome em ambas as cidades, e o decreto do luto académico - e vontade de mudança entre as várias associações do país, com espaço aberto para todos discutirem, quer em plenárias (Lisboa), como em Assembleias Magnas (Coimbra), e conseguiu causar medo no governo ditatorial.
Chegamos a 1969. Após inspiração de movimentos franceses de 1968 e marcados por descontentamento pela Guerra Colonial, luta-se não só pela democratização do ensino, como das estruturas socioeconómicas, com alguma base no marxismo. Se, noutros tempos, o discurso deveria ser apolitizado, agora é precisamente o contrário, potenciando a contestação ideológica e pedagógica e promovendo a congregação da maioria de estudantes possível, para que todos estivessem a par da revolução e utilizando a tradição académica como arma.
Tudo isto culmina na grande crise académica de 69, marcada por um episódio icónico na história de Coimbra: a 17 de abril de 1969, Alberto Martins, presidente da DG-AAC, durante a cerimónia de inauguração do Edifício de Matemáticas (onde participaram o Reitor e Ministro da Educação, que após esta situação, acabaram por se demitir) levanta-se e diz: «Sua Ex.ª, Senhor Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?»
Após um silêncio ensurdecedor absolutamente histórico, a palavra é-lhe negada e abruptamente se encerra a cerimónia, levando a que a comitiva fosse vaiada à saída. Durante a noite, Alberto Martins é detido à porta da AAC e muitos dos seus companheiros são presos e atacados pela PIDE por protestos pela democratização do ensino.
15 dias depois, quando a situação parecia estar mais calma, o Ministério da Educação ordenou o encerramento da Universidade e a suspensão das aulas até à época de exames. Uns dias antes, uma Assembleia Magna decreta luto académico, exortando os estudantes a transformar as aulas em debates sobre a atual situação e é publicada a “Carta à Nação”, numa estratégia de abertura do movimento ao exterior. Destaco uma frase crucial: “a nossa luta só poderá fazer tréguas quando tivermos atingido uma Universidade Nova num Portugal Novo”.
Estudantes a descer em direção à AAC, após a inauguração. Fotografia disponível em 50anos25abril.pt
Pondera-se, então, a greve aos exames - esta muito difícil, pois estava dependente da adesão de uma quantidade muito grande de estudantes e a reprovação dava direito a passagem direta para a Guerra Colonial. Assim, realizaram-se duas Operações de protesto pacífico - a Operação Balão e a Operação Flor, onde se distribuíram balões e flores pela baixa de Coimbra.
No futebol, a equipa da AAC já tinha associado o movimento dos estudantes: entrou no relvado da primeira mão da semifinal vestida toda de branco e com braçadeiras negras, em sinal de luto académico. Terminam o jogo com uma vitória de 2:1 sobre o Sporting, e lançando a preocupação sobre as autoridades. Dias depois, na segunda mão, em Coimbra, no velhinho «Calhabé» - completamente cheio - os estudantes, como forma de protesto, colocaram uma fita adesiva sobre o símbolo da AAC, enquanto nas bancadas os cartazes pediam «Democratização do ensino» e «Ensino para todos». Os estudantes venceram por 1x0 e garantiram a presença na final da Taça em Lisboa, onde iam defrontar o Benfica.
Na final da Taça de Portugal, o Regime mostrava claros sinais de preocupação. Temia-se que a final fosse utilizada como palco de uma gigantesca manifestação contra o regime. Ponderou-se a não realização do jogo, pensou-se adiar o encontro, mudar o local da final.
Final da Taça de 1969. Fotografia disponível em 50anos25abril.pt
Todas as altas figuras do Estado não marcaram presença no Jamor. A tribuna de honra encontrava-se estranhamente deserta, em contraste com as bancadas que estavam à «pinha». Por sua vez, a RTP, pela primeira vez desde que iniciara transmissões da Taça, não transmitia a final e as bancadas estavam infiltradas por centenas de agentes da PIDE, enquanto a FPF informava a Académica que o clube estava impedido de atuar de branco ou com qualquer forma visível de luto.
Contudo, os estudantes encontraram forma de contornar a situação e passar a palavra de contestação ao regime, criando uma primeira mini-manifestação de apoio à Academia na chegada à Estação de Santa Apolónia. Em Coimbra, tinham ficado o treinador suspenso e mais alguns dirigentes, enquanto Artur Jorge, a estrela da equipa, se vira impedido de jogar a final, obrigado a prestar serviço militar.
Mais tarde, nas imediações do Estádio Nacional, 35 mil comunicados foram distribuídos aos espectadores, com o objetivo de expor as razões da luta estudantil. O jogo começou e foi decorrendo com uma estranha acalmia, dentro e fora do relvado. Contudo, tudo mudaria após o intervalo, quando os estudantes levantaram os cartazes e o resto do estádio finalmente percebeu que estava num comício contra o Regime. Palavras de ordem surgiram nas bancadas para todos lerem: «Melhor ensino, menos polícias», «Estão 36 estudantes presos», «Estudantes Unidos por Coimbra», «Universidade Livre».
O ruído que vinha das bancadas chegava ao relvado. Dentro e fora do campo, a nação benfiquista acordava para a situação. Muitos adeptos encarnados, e inclusive jogadores, afirmaram mais tarde que esta teria sido a derrota mais saborosa do Benfica. Membros da oposição esperavam ardentemente pela vitória dos estudantes, cientes do significado político de tal resultado. E tudo parecia estar bem encaminhado quando Manuel António fez o 0x1 para a Académica a nove minutos do fim. Quatro minutos depois, António Simões repôs a igualdade e obrigou a prolongamento. No tempo extra, os academistas perderam o ritmo e o Benfica, através do inevitável Eusébio, marcou o segundo golo e deitou por terra o sonho dos estudantes. No campo, a Académica perdera, mas fora dele, o resultado seria diferente.
De 70 a 74, foi o momento em que mais se sentiu a intervenção política pelos estudantes, com o caso do Festival dos Coros e das greves dos estudantes de Medicina do Porto, o maior número de confrontos com o poder, a revolução proletária e a luta contra a guerra colonial, até se chegar à revolução.
Mas a lição de história já vai longa, o importante agora será refletir sobre o movimento estudantil: não há dúvida alguma - quando os estudantes querem, quando os estudantes acreditam, os estudantes fazem acontecer. E não há dúvidas também sobre o facto do associativismo estar vivo - uma FAP (Federação Académica do Porto) forte, uma ANEM (Associação Nacional de Estudantes de Medicina) com cada vez mais envolvimento estudantil, e uma luta incessante pelos direitos dos nossos estudantes. Talvez não tenhamos que lutar pela nossa liberdade individual nem contra uma ditadura, mas por maior e melhor alojamento estudantil e ação social, falta de inovação pedagógica e oportunidades em Portugal, emigração jovem, entre outros.
Assim, em jeito de conclusão, volto a relembrar Salgueiro Maia: “Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”. Não esqueçamos os heróis que neste texto ficaram relatados, e, mais importante, nunca se esqueçam, são muito mais que meros estudantes.
E, por isso, um feliz dia da Liberdade e um feliz 25 de abril!






Meros Estudantes
Guilherme Silva
Oh Mãããããe!
Ana Henriques
O primeiro domingo de maio é aquele dia que nunca deixo passar em branco. Não pela crucialidade de enaltecer a mulher que mais me inspirou e marcou, mas sim pelo facto de essa mesma mulher, de há uma semana pra cá, me enumerar incessantemente a lista de prendas que anseia receber.
Confesso que não entendo a pertinência desta data comemorativa. A meu ver, não havia necessidade de criar um dia para enfatizar o óbvio: o quão relevante e indispensável é a minha mãe na minha vida. Quotidianamente, eu preciso dela e, por isso, torna-se impreterível à minha sobrevivência.
Por um lado, se tenho alguma decisão para tomar, abordo-a sempre para me aconselhar. Aliás, mesmo sendo estudante de medicina, ainda a questiono sobre o que fazer e tomar quando adoeço, uma vez que, como diriam Os Quatro e Meia, a “minha mãe está sempre certa”. Por outro lado, sempre que surge medo ou angústia, desejo imediatamente a sua presença e alento, porque é “Por baixo das saias da mãe onde eu ‘tou tão bem” (Capitão Fausto).
Assim, concordo com Valter Hugo Mãe, que “as mães têm uma sonda que assinala os filhos num mapa emocional muito preciso”, pelo que também a minha mãe está sempre a lembrar-se e a preocupar-se comigo. Daí, tornam-se evidentes os receios de Tati Bernardi face à responsabilidade que a espera em “Você nunca mais vai ficar sozinha”.
Então, a acompanhar uma travessa do Bordallo Pinheiro, aproveito para te agradecer e dizer que posso não ter realizado a minha viagem de sonho, não ter lido todos os livros ou ido a todos os concertos que queria nem mesmo ter 20 a Anatomia, mas tenho-te a ti e, por isso, tenho tudo.
Dia 10 de junho
Ricardo Luís
É dia de celebrar Portugal. Uma data em que todos os anos somos portugueses e celebramos Camões. 364 dias Portugal, para nós, é terrível e apontamos o dedo a tudo. Mas hoje... hoje somos todos portugueses e erguemos as bandeiras para cantar o hino, mesmo que amanhã já estejamos a dizer que este país não presta e que temos imigrantes a mais. Durante 364 dias, desprezamos os atores, os escritores, os músicos, os cantores, todos aqueles que tentam levar Portugal ao mundo para não ser só conhecido pelo país do Cristiano Ronaldo. Neste dia, lembremo-nos dos que se aventuraram no estrangeiro porque não fomos capazes de lhes dar o necessário para serem felizes aqui, antes de criticarmos os que nos procuram pelos mesmos motivos. Lembremo-nos dos que nos visitam pela beleza que temos antes de dizer que tudo lá fora é mais bonito. Lembremo-nos dos que fizeram de Portugal um país bonito e acolhedor, das pessoas que o tornam maravilhoso, das pronúncias de cada região, da língua única que falamos. Lembremo-nos desde as cascatas do Gerês às praias do Algarve, da beleza das ilhas à paz do Alentejo, da capital à cidade das francesinhas. Lembremo-nos de tudo, mas não só hoje. Lembremo-nos de Camões todos os dias e tenhamos orgulho na bandeira e no hino 365 dias por ano. Tenhamos orgulho em ser portugueses todos os dias das nossas vidas.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram
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