Supercut by us No.1
por Cândida Pereira e João Moreira
Melodrama
Uma tarde de verão… este álbum tenta encapsular essa sensação de êxtase extremo com o sol pleno no céu (e a eventual depressão) misturada com um pouco de loucura que o pôr do sol e a penumbra trazem.
Melodrama é o segundo álbum da cantora e compositora neozelandesa Ella Yelich-O’Connor, mais conhecida como Lorde, procedendo o seu primeiro álbum Pure Heroine - um sucesso mundial que lhe concedeu o seu primeiro e único Grammy com o single Royals.
Depois deste sucesso repentino que trouxe fama e adoração para Lorde, eventualmente surgiu a solidão e a perceção de que as pessoas se aborrecem quando já não estão entretidas e não têm nada a ganhar, um fenómeno descrito por Lorde na música mais melancólica do álbum - “Liability”. Apesar desta solidão e da mentalidade de ser “demais” para os outros -”They say You're a little much for me/You're a liability”- algo que as mulheres estão constantemente a sentir, com este álbum, Lorde permite-se ser tudo o que os outros a impedem de ser.
Concomitantemente, este álbum também é um de luto pela pessoa que a cantora era e pela sua prévia relação. Este sentimento é explorado principalmente em “Writer in the dark” e “Supercut”. Na primeira, Lorde contempla o seu papel como artista e como isso modifica a dinâmica da sua relação. A cantora é tanto o sol em todo o seu esplendor e criatividade, como também apenas uma mulher que ama e quer ser amada. Esta música serve como reflexão e aceitação de que uma relação apenas será saudável se ambas as partes estiverem completas e forem igualmente valorizadas. Por sua vez, em “Supercut”, Lorde reflete nesta mesma relação que pensava ser tudo, não sendo capaz de, agora, agarrar em algo concreto, ficando apenas com os melhores momentos (o “supercut”), que são uma visão falsa da realidade. Apesar de a relação ser claramente tóxica e incerta, como retratado com “I’m someone you maybe might love”, a artista continua a iludir-se a si mesma com o pensamento de que nada foi errado e, tal como o sol, a relação voltará a nascer - “In my head I do everything right”.
Assim se passa a tarde, com luzes verdes, álcool, ecstasy, as catacumbas do Louvre, uma geração incapaz de amar verdadeiramente e a conclusão de que apenas nos temos a nós mesmos.
Finalmente, entramos na noite, onde as imperfeições se tornam salientes e nos chamam para o desconhecido, tal como a adolescência… um fogo indomável mas simultaneamente consumidor de tudo e todos.
Audição obrigatória: Sober, Supercut e Perfect Places.
Tidal
“When I did Tidal, it was more for the sake of proving myself; telling people from my past something. And to also try to get friends for the future" é a forma como o primeiro álbum da cantora e compositora Fiona Apple é descrito pela própria. Lançado em 1996 (a cantora tinha apenas 19 anos!), Tidal foi considerado pela Rolling Stone como um dos 100 melhores “debut” álbuns de sempre, ocupando a 25ª posição. “Criminal”, um dos singles do álbum, conferiu à artista o seu primeiro Grammy - melhor performance de rock vocal feminina. Segundo Fiona, a inspiração deste álbum veio principalmente da sua primeira desilusão amorosa.
Ao abrir com “Sleep to Dream”, a cantora imediatamente impõe o sentimento transversal ao álbum inteiro - a angústia. Sustentando por uma percussão intimidante ou até dissonante, os versos são agressivos e incisivos no seu conteúdo, não deixando espaço para as ilusões demasiado frequentes em quem tem 19 anos (quem nunca?). “Shadowboxer”, “Criminal” e “The Child is Gone” perpetuam esta narrativa de forma sublime, adicionando o trauma e maturação subsequente à temática do álbum. Fiona foi vítima de violação quando tinha 12 anos, resultando no desenvolvimento de PTSD que pautou a sua adolescência.
De mãos dadas com a angústia, surge a depressão explorada em “Sullen Girl”, “Never Is a Promise” e “Slow Like Honey”. Nestas músicas, o álbum atinge o seu anticlímax- a voz suave e melancólica da cantora coaduna-se com o piano e pouco mais, transmitindo sentimentos como a solidão e a desolação tão presentes nos desgostos amorosos.
“The First Taste” é, sem dúvida, um dos highlights do álbum, seja pela sensualidade que evoca, seja pelo instrumental. Excecionalmente, a artista mergulha na fabulação de um romance, apenas possível caso haja um primeiro passo por uma das partes - algo que muitos de nós também aguardamos.
Audição Obrigatória: Shadowboxer, The First Taste e Carrion.
Inéditos e Raridades
O último álbum de uma das bandas portuguesas que mais marcou o cenário rock português foi lançado em 2011, 10 anos após a inesperada separação da mesma. No meio da incerteza e inquietação vivida por parte de todos aqueles que ansiavam ouvir uma vez mais a voz de Manuel Cruz, Inéditos e Raridades é o resultado de uma coletânea de músicas maioritariamente gravadas entre 95 e 99, estando originalmente destinadas para os discos anteriores (Cão ou O Monstro Precisa de Amigos).
Na nossa opinião, apesar de consistir de temas inéditos e raros, o álbum conclusivo da banda Ornatos Violeta ergue-se como um projeto que tem o seu valor e merece o seu louvor, não sendo só um mero depósito de sobras.
Inaugurando com “Dez Lamúrias Por Gole”, ficamos logo aliciados pela forma como a voz do vocalista se mistura quase em uníssono com a guitarra, o baixo e a percussão. Num tom leviano e anedótico, aborda-se a embriaguez como um refúgio dos problemas amorosos (situationships inclusive!). O disco segue o seu rumo com “Tempo de Nascer”, uma música “à Ornatos” e “Circo de Feras”, que fez parte de um disco tributo aos Xutos e Pontapés XX anos, XX bandas.
O álbum encerra em chave de ouro - a tríade “Devagar”, “Rio de Raiva” e “Pára-me Agora” é, para nós, o momento alto do álbum.
Oscilando entre a esperança, o desamor, a raiva, a inveja e muito mais, chegamos ao final deste disco e pensamos para nós mesmos “Tinham mesmo de se separar?”.
Audição Obrigatória: Tempo de Nascer, Devagar e Rio de Raiva




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