Entrevista a Diana Inácio

O meu nome é Diana Inácio e sou estudante de Medicina do 4º ano. Sou de Sintra (Lisboa) e tenho 20 anos. Desde muito pequena que adoro escrever e com 5 anos dizia que o meu sonho era ser escritora, algo que perdi com o passar da idade por considerar ser “impossível” atingir tal objetivo. Com 12 anos voltei a dedicar-me à escrita e desde então que me esforço para ver o meu trabalho publicado. É com muita felicidade que apresento o meu primeiro projeto, que está quase cá fora, pronto para o olhar dos leitores.

Corino: Olá! Antes de mais é uma honra entrevistar uma aluna da nossa Casa com um projeto tão especial!

Para começar, gostaria de saber que Projeto é que nos gostarias de apresentar e qual o seu nome.

Diana: Muito obrigada por me receberem, é uma honra também para mim poder marcar presença na revista do nosso querido Instituto.

Portanto, o projeto trata-se de um livro… um conto que eu escrevi, de título “Aquilo que Ninguém Vê”. É uma história fictícia, inspirada num gesto verídico da minha irmã. Ela tem autismo de um grau muito elevado, o que acaba por originar gestos genuínos muito bonitos e sem explicação evidente. Há uns anos, quando estávamos de férias, ela abraçou uma árvore. Nunca o tinha feito e apenas abraçava aquela árvore específica, ano após ano, o que me inspirou a escrever este conto. Vai então ser lançado em formato de livro infantil, com capa dura e ilustrações (a história não é infantil, trata-se de um conto para todas as idades), sendo que uma percentagem das vendas (ainda por definir) será doada à APPDA Norte (Associação Portuguesa para o Autismo - Norte), que é a instituição que ajuda e ensina estes meninos.

C: Qual a origem do nome?

D: Eu penso que o título fala por si. Nunca tinha convivido com meninos autistas até à minha irmã e tem sido uma jornada extremamente bonita. Apesar das suas dificuldades, pessoas com autismo (criança ou não), veem o mundo com um olhar diferente, mais puro e mais genuíno, sem os filtros que pessoas não autistas forçam sobre o mundo. Quando a vi a abraçar a mesma árvore repetidamente, a primeira coisa que pensei foi “Ela está a ver algo naquela árvore que nós não vemos” e comecei imediatamente a imaginar o seria, o que deu origem à história que escrevi. Para além de refletir este gesto, sinto que reflete muitos outros aos quais tive o privilégio de assistir e descreve de uma forma muito especial (e verdadeira) a forma como as pessoas com autismo sentem este nosso mundo, vendo “Aquilo que Ninguém Vê”.

C: Qual foi a motivação para escrever este livro?

D: Não sei se faz muito sentido falar de motivação neste caso. A minha motivação é a própria escrita; sempre adorei escrever e faço-o sempre que surge inspiração para tal. Neste caso, como já referi, ver a minha irmã a abraçar a árvore pôs-me logo a imaginação a trabalhar. Lembro-me perfeitamente que tinha de ir deitar o lixo fora quando aconteceu e que regressei já com a história toda formada na mente; peguei imediatamente no computador e escrevi tudo de uma vez. Dei à minha família para ler e quando reparei tinha a minha mãe e o meu padrasto em lágrimas… foi aí que surgiu a ideia de publicar.

C: Qual é a tua ilustração preferida do livro e porquê?

D: Eu não consigo ser imparcial ao comentar as ilustrações. Pedimos a uma professora de artes amiga para as desenhar e fiquei obcecada por elas desde o princípio. As cores vibrantes, para além de darem vida à história, parece que me falam como artista e como pessoa (quem me conhece sabe que adoro cores fortes) e o próprio estilo fluído das aguarelas parece que encaixa que nem uma luva no estilo de escrita. Claro que tenho algumas favoritas, mas a tarefa de escolher apenas uma é um grande desafio.

Provavelmente escolheria o desenho que mostra a menina a abraçar a árvore, para além das cores e do desenho em si, representa o gesto que deu origem a este projeto e que, por isso, me é tão querido.

C: Que mensagem queres passar com este livro?

D: Esta é uma história que retrata o lado mais humano do autismo. Todas as pessoas com autismo são diferentes e é impossível generalizar características, mas o que se ouve mais é sempre o lado científico e as capacidades quase inumanas apresentadas apenas por casos muito específicos. Esta história procura transmitir algo mais banal e do qual eu nunca tinha ouvido falar publicamente até conhecer a minha irmã: a empatia, a pureza e a genuinidade destas pessoas. Receber um abraço ou qualquer outra forma de carinho dela é algo que aquece o coração; ela não põe filtros aos sentimentos e dá para sentir naquele abraço a autenticidade da sua emoção. É uma faceta do autismo que passa mais despercebido e que acaba por demonstrar a grande humanidade destas pessoas; uma pureza extremamente bela. Era precisamente isto que eu gostava de transmitir às pessoas.

C: Se tivesses de escolher um excerto do livro, qual escolherias e porquê?

D: “Com um olhar triste, a menina despediu-se dele, enquanto a árvore voltava a ser apenas uma árvore... não. A árvore continuava Lucinda e a menina continuava a abraçá-la todos os dias e a sentar-se com ela.” (para contexto, Lucinda é o nome que a minha irmã deu à árvore). Este excerto retrata o momento em que a companhia e o carinho da minha irmã para com a árvore, saram velhas feridas e permitem que a árvore volte a ser árvore. A capacidade que ela teve de ver para além da planta e olhar com profundidade para o ser vivo que representa ajudou a curar a solidão de uma alma, tal como também já a vi fazer com estranhos na rua. Mostra também que é impossível alguma vez passar a ser uma árvore normal depois de todos os momentos retratados na história. A conexão que foi estabelecida entre a menina e a árvore vai sempre fazer com que seja especial para aquela família, sabendo que há algo mais ali, algo invisível à vista e que apenas ela consegue saber, o que volta a tocar na mensagem principal da história.

C: Se puderes partilhar connosco, quais são os teus projetos futuros na área da escrita?

D: Eu tenho outros projetos em andamento, totalmente diferentes deste. Desde os meus 12/13 anos que me tenho dedicado a escrever um livro de género fantástico. Criei um mundo do zero e escrevi o primeiro livro de uma trilogia que tenciono publicar. Aquilo que consigo prometer é que este vai ser o primeiro lançamento de muitos.

C: Uma pergunta mais poética para termina. Concretizas um sonho ao publicar este livro? Qual é o teu próximo sonho?

D:Desde muito pequena que sonho em ser escritora e publicar livros… Entretanto, ao crescer, deixei de acreditar ser possível. Numa conversa aos 12 anos com o meu pai, voltei a acreditar e escrevi o primeiro parágrafo do livro de que falei na pergunta anterior. Desde então que acredito e trabalho para que isso seja possível, sempre desejosa de ver algo da minha autoria cá fora. Quase 10 anos depois, vou lançar o primeiro projeto da minha autoria e é definitivamente um sonho tornado realidade.

O próximo sonho seria publicar o livro de fantasia e posteriormente concluir a trilogia e que tivesse sucesso. No entanto, gosto de pensar numa coisa de cada vez, o objetivo depois de lançar este livro é publicitá-lo e trabalhar para o seu sucesso.