Votos de um bom domingo
Em pleno período eleitoral somos inundados com discursos e debates políticos. Contudo, esta imensidão de informação não garante a voluntária decisão de tirar o pijama e sair de casa a um domingo em direção às urnas para exercer o seu direito e dever de voto. Assim, o presente texto serve não como veículo de campanha de um partido político, mas sim para, através de três recomendações literárias, enfatizar a importância do voto e da existência de um regime democrático.


A Quinta dos Animais, George Orwell
A Quinta dos Animais é uma história intemporal e de leitura obrigatória contada pela invulgar perspetiva dos animais de uma quinta que ganham não só uma voz, como também uma visão crítica acerca dos sistemas políticos. As personagens desta obra e as peripécias por elas vividas são o mote para a reflexão acerca do contributo fulcral dos princípios da espécie humana para a formação dos sistemas políticos por todo o mundo, visto que, ao longo do tempo, os valores originais de uma revolução são sempre corrompidos em nome da manutenção do narcisismo - “Aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana).
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.”
Ensaio Sobre a Lucidez, José Saramago
Espera-se um período ordinário de eleições. No entanto, após a contagem de votos da capital, 70% deles estão em branco. Repetidas as eleições, o número de votos em branco ultrapassa os 80%.
Saramago é o rei das ótimas premissas sucedidas por uma brilhante concretização. Assim, face a este impasse político, ao invés de assumirem responsabilidades e tentarem averiguar aquilo que apoquenta os eleitores, declaram o estado de sítio à capital, isto é, impedem a circulação livre da população, censuram meios de comunicação e retiram todas as forças do estado (polícia, bombeiros…) na esperança de instalar o caos. Paralelamente, iniciam uma investigação na procura do conspiracionista que originou esta cegueira branca.
“… esse direito é para usar em doses homeopáticas, gota a gota, não podes vir por aí com um cântaro cheio a transbordar de votos brancos…”
Fahrenheit 451, Ray Bradbury
A sociedade retratada por Bradbury é uma sociedade hedonista, dedicada ao prazer - ninguém trabalha para viver (exceto os Bombeiros). Nos bancos, os clientes são recebidos por robots e o ensino processa-se através de filmes. Todos aqueles ligados ao conhecimento estão reformados, sem fortuna (alguns perseguidos pelo sistema político). Os demais levam a vida "feliz" agarrados à TV.
Esta obra distingue-se das distopias de Orwell, não há oposição política, não há ideologias contrárias, nenhum governo a ser derrotado, apenas a indiferença cultural das massas na busca da felicidade. Não existe um ditador opressivo, tirânico, maníaco, daí que este inimigo é o mais sinistro de todos: vontade impessoal de gente ignorante numa sociedade altamente censurada.
“Nós temos tudo para sermos felizes, mas não o somos. Algo está a faltar.”








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